coragem. é que todos esperamos, mas depois descobrimos, que bem lá no fundo somos um pouco cobardes. é nessa altura que nós percebemos que não podemos fugir mais. temos de lutar. porque lutar é o nosso maior medo. coragem para admitir erros cometidos, para viver é preciso saber mentir. mas também é preciso a verdade pura. eu sei que sou capaz, mas quem é que quer saber? ninguém. só tu, porque só tu importas. és perfeito para mim. e eu gosto muito de ti.
“Passei ao lado do mundo e tomei a história pela vida”
Jules Michelet
Há muito tempo que é assim, o torpor da rotina vai-me tomando os membros até chegar aos ossos, já não me lembro bem como era antes de ter mudado de casa para tentar mudar de vida, só sei que foi há mais de três anos e ainda não sei se consegui ou não, mas dizem que o tempo resolve tudo, por isso fico á espera, o que é muito fácil para quem aprendeu a não esperar nada dos outros.
A vida são portas condenadas.
Portas que passamos, pensando que, a as abrirmos, vamos descobrindo o mundo e arrumando o caos interno, mas afinal percebemos que à medida que os anos passam, eles se vão fechando uma a uma, nas nossas costas ou na nossa cara, batendo com uma veemência esmagadora que nos deixa de braços estendidos ao longo do corpo e a perguntar em surdina porquê.
A vida são portas condenadas, primeiro fecha-se a porta da infância, dos bolinhos de lama para o lanche das bonecas, tiram-nos as rodinhas das bicicletas e dizem-nos
és capaz, tu já és capaz
a partir daà a vida estreita-se num arame cada vez mais fino ténue e é então que vamos percebendo que viver não é mais que um precário equilÃbrio, uma travessia solitária pelo arame traiçoeiro que nos há-de levar a um lado qualquer que é sempre do outro lado, onde está tudo aquilo que nos convencem que queremos ou que simplesmente escolhemos como objectivo para alcançar uma coisa qualquer a que gostamos de chamar tranquilidade.
by « Artista de circo » , de Margarida Rebelo Pinto