A descida dos adeuses

12:40

   A vida são portas condenadas.
   Portas que passamos, pensando que, a as abrirmos, vamos descobrindo o mundo e arrumando o caos interno, mas afinal percebemos que à medida que os anos passam, eles se vão fechando uma a uma, nas nossas costas ou na nossa cara, batendo com uma veemência esmagadora que nos deixa de braços estendidos ao longo do corpo e a perguntar em surdina porquê.
   A vida são portas condenadas, primeiro fecha-se a porta da infância, dos bolinhos de lama para o lanche das bonecas, tiram-nos as rodinhas das bicicletas e dizem-nos
             és capaz, tu já és capaz
a partir daí a vida estreita-se num arame cada vez mais fino ténue e é então que vamos percebendo que viver não é mais que um precário equilíbrio, uma travessia solitária pelo arame traiçoeiro que nos há-de levar a um lado qualquer que é sempre do outro lado, onde está tudo aquilo que nos convencem que queremos ou que simplesmente escolhemos como objectivo para alcançar uma coisa qualquer a que gostamos de chamar tranquilidade.

by « Artista de circo » , de Margarida Rebelo Pinto

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