Quem
foi que disse que o tempo cura? Muitas vezes durante toda a minha vida, bati de
frente com essa frase. Tropecei, caí, e então ela veio e de certa forma
confortou-me. Hoje, parando e analisando o real problema que eu tenho
enfrentado à tanto tempo, percebi que não, o tempo não cura. Não cura mesmo, ás
vezes até piora. Acreditem. O tempo faz passar. Ele é apenas o intermédio entre
as tuas aflições e o teu conformismo. Quando tu passas por maus bocados, o
tempo que passa não te cura. Vai apenas fazer com que a vida continue, e então,
tu percebes que não vale parar e chorar pelo o que não tem volta nem conserto.
Mas então, o que realmente cura o que por muitas vezes denominamos “pedras no
caminho”? Pois creio que nada cura nada. Nada de nada. Os meus dias têm sido
vazios, por conta de momentos pelos quais acho que ninguém deveria passar. O
tempo? Oh, claro. Passou. Se eu culpo a vida por isso? Não, jamais. O destino,
para mim, simplesmente não existe. Somos nós que construímos a cada dia e a
cada atitude o dia de amanhã. Eu culpo, com todas as minhas forças, as pessoas
que tornam este meu problema a cada dia mais insustentável. Pessoas que
poderiam ajudar-me a tornar os meus sonhos reais, mas ao invés disso, preferem
fortalecer uma situação de desconforto para todos. Não sei se para eles as
coisas também são assim. Não sei se também se sentem perdidos num lugar onde o
sentimento deveria ser de maior amor. Não faço ideia se quando deitam a cabeça
em seus travesseiros também imaginam que aquele dia podia ter sido diferente,
se fizessem algo para mudar. Não sei se têm um choro misturado com agonia preso
na garganta, que por algum motivo desconhecido, não quer sair. Não sei se eles
realmente queriam que isto tudo fosse diferente. Mas talvez o problema seja
realmente comigo… talvez seja tudo uma mera invenção do meu subconsciente para
que eu me mantenha ativa. Do que é que eu preciso agora? De tempo… tempo para
perceber que fugir é impossível, e que já não está mais nas minhas mãos decidir
o que fazer. Espero que esse tempo também passe para eles e os faça entender
que eu já não suporto mais.
Cresce agora um vazio dentro de mim. É como se o ar não fosse
suficiente para encher o meu peito. É como se o chão desaparecesse debaixo dos
meus pés e o céu desabasse esmagando o meu corpo. Eu demorei a sentir isto e
não sofri no primeiro momento. Fui fria, como se no lugar do meu coração
houvesse uma pedra gelada. Eu não posso desabar, não me permito desmoronar, nem
aqui nem agora. Estou a esconder a dor, fazendo dela invisível, enquanto ela me
corre por dentro, destruindo a pouca luz que ali havia. A vida vai continuar,
mesmo que eu não queira. O hoje não passará de uma lembrança de um dia ruim. As
coisas seguirão, independentemente do meu peito arruinado. Mas pior que isso é
ter que engolir as lágrimas e dar um sorriso falso, como se tudo estivesse bem.
Eu nunca, absolutamente nunca senti algo assim tão forte e agora isso está a
matar-me. É como uma faca a perfurar o meu peito, como não ter rumo ou motivo
para existir. Eu não vou mais suportar ver-te, eu sei que não vou. Porque mentiste
ao falares-me de amor? Porque me fizeste amar-te como se tu nunca fosses
partir? Eu já não sei mais viver sem te ter, sabias? Eu devo esquecer, mas não
posso.
Estou a aproximar-me de tudo que me faz completa, que me faz feliz e que me quer bem. Estou a aproveitar tudo de bom que esta nossa vida tem. Estou a dedicar-me de verdade para agradar um outro alguém. Estou a trazer para perto de mim quem eu gosto e quem gosta de mim também. Ultimamente eu só estou a querer ver o 'bom' que todo o mundo tem. Relaxa, respira, irritar-se é bom para quem? Supera, suporta, entende: isento de problemas não conheço ninguém. Queria viver, viver melhor, viver a sorrir e até os cem. Estou feliz, estou despreocupada, com a vida eu estou bem. Não abdiquei de nada, estou livre. Livre de tudo, de respirar e de viver. Gosto mais da minha vida assim, é mais relaxante, é mais pacífica. É paz, é simples. É a minha vida. Tem fases fáceis e outras difíceis. Há dias que não nos apetece viver e há outros que gostávamos que nunca mais acabassem. Há dias assim, tortos.
Olho para o céu à procura de inspiração, ou talvez de um pouco de paz. O fim da tarde parece infinito, e ao mesmo tempo pequeno para tanta calmaria. Tento decifrar os desenhos por entre as nuvens já aglomeradas, mas tudo que encontro é uma forma de poesia traduzida num simples momento de união entre toda força que há ali. As cores do dia se tornam vívidas, e isso deixa-me contente. Olhar para o redor e imaginar onde está o horizonte é complexo demais, então contento-me em apenas desligar-me de tudo, e sentir o vento leve que sopra na minha cara. Não há um tempo determinado para isso. Não há tempo para quem quer a felicidade nas coisas simples. Não há horas exactas, momentos oportunos. Basta sentir, ver, amar. O vento tem mais valor agora. O sol, mesmo por por de trás de tantas nuvens, brilha como se fosse a sua última vez. O verde das pastagens adquiriu um poder de hipnose sobre o meu subconsciente. Tudo é claro, é infinito, é amor. E enquanto tento repassar para o papel os sentimentos que minha alma não me deixa transparecer, o dia se vai. Quando me dou conta, já é noite, e os raios do sol já não iluminam mais aquele dia de paz. A noite traz consigo os mistérios que eu não quero desvendar. Surge questionando-me o motivo pelo qual eu a ignoro, mas eu não sei ao certo a resposta. Talvez seja porque o dia tem mais flores, encantos e sons. De dia há mais harmonia, tranquilidade e clareza. E se mais alguém me perguntar, eu não hesito. Sim, eu sou do dia, apesar de gostar da noite, e de toda a inspiração que o horizonte – que eu ainda não descobri – me dá.
Fazer, não fazer. A vida
aguarda a resposta. A resposta urgente, pendente. Bom, perdido .errado.
Tudo a mesma coisa. Perco-me no caminho do teu coração. O que é que me
aconteceu? Ás vezes parecia que tudo era fácil, agora descobri tudo. A verdade
da mentira. A mentira da verdade. Apetece-me fugir deste pesadelo, viver longe
daqui. Farta? Farta estou eu, mais que isto é impossível (não gosto
desta palavra, na verdade detesto-a). Acreditava que os sonhos eram reais, que
existiam de verdade. Descobri que eles fogem de nós. Fogem para longe, para
lugares escuros onde ninguém vai. Para lugares, onde quem lá vai, não volta nem
tem coragem de falar sobre esse lugar horrível. Eu não gosto de uma palavra
horrível. Os sonhos fogem de nós, mas para onde? Desaparecem?
São impossíveis de os apanhar. Eu só gostava de viver. De ter um sonho
realizado. Só um.
Só de pensar que já não estás aqui faz-me arrepios, faz-me querer chorar.
As saudades são muitas, acredita, e eu que vai ser muito dificil seguir em
frente com a minha vida, sim, eu sei mesmo o que me vai custar. Vai ser triste
e frustrante, mas vou ter de fazer os possíveis. Vai ser horrível, mas eu
tenho que ter esperança. Tenho de sentir esperança. Tenho de conseguir levantar
voo e não cair. E se cair, qual é o problema? Levanto-me, pois toda a gente
cai, mas só os fracos continuam no chão. E é este o círculo da vida, a girar
cem mil vezes por dia, voando. Por isso é que lhe chamam vida, porque tem altos
e baixos, como as relações. Se não houvesse altos e baixos, provavelmente a
vida não se chamava vida, mas sim paraíso. No paraíso, havia as roupas mais
fixes sempre no nosso roupeiro, a fome e a sede acabava, havia sempre sol, não
existiam coisas más e todos nós éramos reconhecidos por alguma coisa feita. E
eu vou conseguir ser dura de roer, nada frágil, pois afinal de contas, não
posso chorar por causa de uma pessoa, tenho de me lembrar que ainda existem
milhões de milhões de milhões (...) De pessoas a quem sorrir. E assim que se
aprende a ficarmos rijas, nada frágeis. Tenho quase a certeza disso. E eu estou
deserta por descobrir onde é esse tal paraíso. E sei, que provavelmente,
ou até acidentalmente eu a encontrarei. Afinal, não foi assim que os
portugueses no século quinze e encontraram muitas terras e
territórios? Foi pois. Então, se é assim, eu teria muito prazer e iria gostar
muito de ser a primeira pessoa a encontrar o paraíso. Seja lá onde isso for.