A matter of trusting

21:55

Não confie na frase de sua avó, de sua mãe, de sua irmã de que um dia encontrarás um homem ou mulher que mereces. Não existe justiça no amor. O amor não é censo, não é matemática, não é senso de medida, não é socialismo. É o mais completo desequilíbrio. Ama-se logo as pessoas que nós odiávamos, quem nós provocávamos, quem nós debochávamos. Exactamente o nosso avesso, o nosso contrário, a nossa negação. O amor não é democrático, não é optar e gostar, não é promoção, não é prémio de bom comportamento. O melhor para ti é o pior. Aquele que tu escolhes, infelizmente não tem química, não dura nem uma hora. O pior para ti é o melhor. Aquele de quem procuravas distância é que se aproxima e não larga a tua boca. Amor é engolir de volta os conselhos dados às amigas. É viver em crise: ou por não merecer a companhia ou por não se merecer. Amor é ironia. Largará tudo — profissão, cidade, família — e não será suficiente. Aceitará tudo — filhos problemáticos, horários quebrados, ex histérica — e não será suficiente. Não se apaixonará pela pessoa ideal, mas por aquela que não se conseguirá separar. A convivência é apenas o fracasso da despedida. O beijo é apenas a incompetência do aceno. Amar talvez seja surdez, um dos dois não foi embora, só isso; ele não ouviu o fora e ficou parado, besta, ouvindo seus olhos. Amor é contravenção. Buscará um terrorista somente por ti. Pedirá exclusividade, vida secreta, pacto de sangue, esconderijo no quarto. Apagará o mundo dele, terá inveja de suas velhas amizades, de suas novas amizades, cerceará o sujeito com perguntas, ameaçará o sujeito com gentilezas, reclamará por mais espaço quando ele já loteou o invisível. Ninguém que ama percebe que exige demais; afirmará que ainda é pouco, afirmará que a cobrança é necessária. Deseja-se desculpa a qualquer momento, perdão a qualquer ruído. Amar não tem igualdade, é populismo, é assistencialismo, é querer ser beneficiado acima de todos, é ser corrompido pela predilecção, corroído pelo favoritismo. É não fazer outra coisa senão esperar algum mimo, algum abraço, algum sentido. Amor não tem saída: reclama-se da rotina ou quando ele está diferente. É censura (Porque é que tu falaste naquilo?), é ditadura (Tu não devias ter feito aquilo!). É discutir a noite inteira para corrigir uma palavra áspera, discutir metade da manhã até estacionar o silêncio. Amor é uma injustiça. Uma monstruosidade. Tu mentirás várias vezes que nunca o amarás de novo e sempre o amarás, absolutamente porque não tem nenhum controle sobre o amor. Amor é tudo, menos uma coisa sem sentido. (Fabrício Carpineja)

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